O sabor da cerveja é diferente se bebida num copo, numa lata ou numa garrafa? Eis uma dúvida existencial que há muito entretém as mentes dos maiores apaixonados por cerveja. Se o copo é consensualmente considerado o recipiente em que beber cerveja é uma experiência mais rica, que vai desde a melhor visualização do líquido até à facilidade de perceção dos aromas, já os papéis da garrafa e da lata são menos consensuais. Será o sabor da cerveja mesmo diferente se for de lata ou de garrafa?
Não há uma resposta definitiva a estas perguntas, mas algumas pistas ajudam a responder-lhes. É o caso de uma prova cega realizada em 2012, pelo Huffpost, que testou quatro cervejas nas suas versões de lata e de garrafa. Em três das quatro cervejas, os participantes deram preferência à lata. Além disso, apenas 54% dos participantes identificaram corretamente que a cerveja que beberam era de lata, o que mostra que distinguir as duas versões não é, afinal, uma tarefa fácil.
Mas nem só de sabor se fala quando o tema é o recipiente de cerveja. O que está em causa é, também, a capacidade de preservar as características deste néctar e, também neste campo, lata e garrafa apresentam trunfos diferentes. Para perceber as diferenças, há que viajar no tempo e perceber as origens de cada um.
Garrafa, a sucessora do barril
Hoje olhamos para a garrafa como algo comum, mas foi preciso chegar ao final do século XIX para que este recipiente começasse a ganhar força. Nessa altura, o desenvolvimento crescente da indústria do vidro permitiu que a cerveja engarrafada se tornasse mais acessível e as cervejeiras começassem a encarar a bebida como um produto que podia ser comercializado noutras regiões e países. Até então, o domínio estava sobretudo do lado dos barris. O problema? Não era fácil ter um barril em casa, pelo que o consumo da bebida era feito, sobretudo, em estabelecimentos comerciais. Os pubs, por exemplo.
A garrafa tem, no entanto, um grande inimigo: a luz natural, cuja energia ultravioleta proporciona uma reação fotoquímica com o lúpulo, que afeta negativamente o sabor da cerveja. A reação será naturalmente mais propícia em garrafas de vidro totalmente transparente ou claro - consta que alguém bem treinado consegue detetar alterações no sabor da cerveja após apenas 30 segundos de exposição da bebida à luz. Assim se explica que grande parte das garrafas tenham vidro castanho, a cor mais indicada para bloquear a luz e atrasar aquela reação química. No entanto, a escassez de vidro castanho durante a Segunda Guerra Mundial levou a que se começassem a desenvolver garrafas verdes.
A elogiar - Forma agradável de beber cerveja
A rever - Maior exposição à luminosidade se indevidamente acondicionada
Lata, a rainha da preservação
A primeira cerveja em lata foi vendida nos Estados Unidos pouco após o fim da Lei Seca, em 1933, pela mão da cervejeira Gottfried Krueger Brewing Company, de Newark, em Nova Jérsia (Estados Unidos). A produção da lata ficou a cargo da American Can Company, que tinha começado os testes em 1909. Nesta altura, a ideia acabou por ser abandonada devido a algumas dificuldades de desenvolvimento: as cervejas ficavam com sabor metálico devido à falta de revestimento interno da lata. Em 1921, os esforços foram retomados e os problemas resolvidos, mas só quando a Lei Seca deixou de existir se tornou real a possibilidade de vender nos Estados Unidos. As primeiras latas vendidas pela cervejeira tiveram como destino Richmond, na Virgínia, numa fase de testes. As latas tornaram-se populares entre os produtores e, em 1969, a venda de cerveja em lata ultrapassou as vendas em garrafa.
Foi no País de Gales que uma cerveja em lata foi vendida pela primeira vez fora dos Estados Unidos. Aconteceu a 3 de dezembro de 1935 e a responsável foi a Felinfoel Brewery Company.
Nos primeiros tempos, as cervejas em lata tinham problemas de oxidação e de sabor a metal, mas esta limitação já não acontece hoje. As latas conseguem, até, ser mais eficazes do que as garrafas na proteção contra a exposição à luz, uma vez que são completamente opacas, permitindo conservar as propriedades da cerveja durante mais tempo do que uma garrafa. Devido à produção massificada, as cervejas de lata ficaram associadas a cervejas baratas e de fraca qualidade, pelo que ainda há quem olhe com desconfiança para elas. A verdade é que há boas e más cervejas em lata, tal como há em garrafa.
A elogiar - Preservação das propriedades da cerveja
A rever - Má reputação (atualmente infundada) no que toca à qualidade da cerveja




